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Quando fala-se de escalada, aparece expressões do tipo “fácil”, “moderada” ou “difícil”, porém esta definição é um tanto imprecisa. Por exemplo, como classificaríamos uma escalada que não é nem moderada, nem difícil? Para alcançar maior precisão cada escalada passou a receber um grau, que é dado por comparação com outras vias. Assim foram criados vários sistemas, os mais conhecidos no esporte são o francês e o americano. A Associação Gaúcha de Montanhismo (AGM) apresenta a graduação de vias usada pela Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME).

 

TIPOS E PARTES DA GRADUAÇÃO

  1. Grau Geral da Via

O grau geral tem o objetivo de expressar a soma de todos os fatores objetivos e subjetivos que traduzem a dificuldade de uma via. Trata-se de uma média das dificuldades técnicas encontradas ao longo da via, que por sua vez pode ser ajustada de acordo com os fatores subjetivos, caso estes tenham um peso relevante na dificuldade geral. Entre estes fatores estão: distância entre as proteções, periculosidade das quedas, exigência física, qualidade das proteções e da rocha, existência ou não de paradas naturais para descanso no meio das enfiadas e possibilidade de abandono do meio da via.

1.1 Exemplo de escala: (1º, 2º, 3º, 4º, 5º, e etc.).

 

  1. Grau do Lance Mais Difícil (CRUX)

Trata-se do grau do lance ou sequência mais difícil de toda a escalada (também chamado de CRUX), pode ser apenas uma passada ou uma sequência, isto é, um conjunto de lances entre dois pontos naturais de descanso da via. Este grau também é influenciado pelo nível de exposição (um lance difícil longe da última proteção tende a ter graduação mais alta do que o mesmo lance bem protegido), embora o fator dificuldade técnica prevaleça.

2.1. Exemplo de escala: III, IIIsup, IV, IVsup, V, Vsup, VI, VIsup, VIIa, VIIb, VIIc, VIIIa, VIIIb, VIIIc, e etc.

 

  1. Vias de Uma Enfiada, Falésias e Boulders

Para estas vias não há sentido em se atribuir um grau geral e um grau para o lance mais difícil, uma vez que são vias curtas, de comprimento máximo de 50 ou 60 metros. Então o grau geral é abolido, e utiliza-se somente o grau do lance ou sequência mais difícil, em romanos, para expressar a sua dificuldade. As vias muito curtas, por serem normalmente mais difíceis, não costumam possuir pontos naturais de descanso – neste caso a via inteira é uma sequência única a ser graduada.

Exemplos:

O Tempo Não Para (Galpão de Pedra, Caçapava do Sul, RS) – VIsup

Gangrena (Itacolomi , Gravataí – RS) – VIIc

 

  1. Grau Máximo Obrigatório em Livre

O grau de uma via de escalada é o seu grau mais em livre possível. No entanto, um escalador cujo nível técnico esteja abaixo dos lances mais difíceis de determinada escalada pode ter condições de repeti-la se subir tais lances em artificial, utilizando para isso as proteções como pontos de apoio.

Na hora de graduar uma via, alguns escaladores optam por mencionar o grau máximo “obrigatório” em livre da escalada, ou seja, o grau da via que, mesmo utilizando as proteções como ponto de apoio, o escalador necessariamente tem que conseguir guiar em livre para repeti-la. Neste caso o “novo crux” passa a ser mais baixo, substituindo o crux real na graduação. O crux real é mencionado entre parênteses, junto com a indicação do artificial que o substitui.

Exemplos:

Suponha que numa via de 3° VIsup o lance de VIsup possa ser subido pisando-se em duas das proteções (artificial A0, portanto), fazendo com que o grau máximo em livre passe a ser IV. O grau desta via pode ser expresso então como 3° IV (A0/VIsup). Isto é, a via é de 3° grau, o crux é de VIsup e caso este seja feito em artificial A0 o novo crux (grau obrigatório) passa a ser IV. O termo entre parênteses (A0/VIsup) significa “ou você faz um A0 ou faz um VIsup”.

 

  1. Graduação em Artificial (A)

Entende-se por artificial o uso de meios não naturais (ou pontos de apoio artificiais) para progressão numa escalada. O grau adotado aqui segue o sistema internacionalmente mais utilizado, indo de A0 a A5, e possuindo subdivisões (“+”). Apenas o A0 recebe uma definição um pouco diferente em relação a outros países. Quanto ao grau reservado para (futuras) escaladas mais difíceis do que A5, adota-se aqui o A5+ em vez de A6, para se manter uma lógica sequencial, a exemplo de algumas publicações como o já citado “Mountaineering – The Freedom of The Hills”.

O grau do artificial de uma via é o grau da sua enfiada mais difícil, e não uma média dos diferentes trechos em artificial. Quando o artificial possui poucos pontos de apoio, pode-se desejar mencionar a quantidade destes pontos. Neste caso, coloca-se o número de pontos de apoio entre parênteses, logo depois do grau. Exemplo: 4° V A1(3) ou 4° V A2+(2). Quanto a via possui trecho em cabo de aço, adiciona-se a letra “C” ao final, por exemplo: 4° V C.

Convém comentar que a graduação de artificiais leva em conta principalmente a qualidade das colocações que seguram o escalador e o tamanho da queda em potencial. Assim sendo, é possível a existência de artificiais com poucas passadas mas de graus elevados, por exemplo: uma sequência de 4 ou 5 copperheads e rurps fragilmente colocados após um longo lance de escalada em livre sem proteção pode vir a receber um grau alto, apesar de ser um trecho curto. Artificiais fixos podem ser A0 ou A1, conforme sua extensão. Artificiais de cliff são sempre maiores do que A1, variando conforme a distância da última proteção sólida e a dificuldade de progressão. Estes fatores também se aplicam ao material móvel em geral.

Escala:

A0: Pontos de apoio sólidos (“à prova de bomba”) isolados ou em uma curta sequência, com pouca exposição; pêndulos; uso da proteção para equilíbrio ou descanso e tensionamento da corda para auxílio na progressão.

A1: Peças fixas ou colocações sólidas de material móvel, todas elas fáceis e seguras, em uma sequência razoavelmente longa.

A2: Colocação geralmente sólida das proteções móveis, porém mais difíceis. Algumas colocações podem não ser sólidas, mas estarão logo acima de uma boa peça. Não há quedas perigosas.

A2+: Como o A2, mas com possibilidade de mais colocações ruins acima de uma boa. Potencial de queda aproximado de 6 a 9 metros, mas sem atingir platôs. Pode ser necessária uma certa experiência para encontrar a trajetória correta da escalada.

A3: Artificial difícil. Possui várias colocações frágeis em sequência, com poucas proteções sólidas. O potencial de queda é de até 15 metros, equivalente ao arrancamento de 6 a 8 peças, mas geralmente não causa acidentes graves.

A3+: Como o A3, mas com maior potencial de quedas perigosas. Colocações frágeis, como cliffs de agarra em arestas em decomposição, depois de longos trechos com proteções que agüentam somente o peso do corpo.

A4: Escaladas muito perigosas. Quedas potenciais de 18 a 30 metros, com perigo de se atingir platôs ou lacas de pedra. Peças que aguentam somente o peso do corpo.

A4+: Como o A4, mas são necessárias várias horas para cada enfiada de corda. Cada movimento do escalador deve ser calculado para que a peça onde ele se encontra não seja arrancada apenas com o peso do seu corpo.

A5: Este é o extremo, sob o ponto de vista técnico e psicológico. Nenhuma das peças colocadas em toda a enfiada é capaz de segurar mais do que o peso do corpo, quando muito. As enfiadas não podem possuir proteções fixas nem buracos de cliff.

A5+: Como um A5 em que as paradas não são sólidas. Qualquer queda é fatal para todos os componentes da cordada. Até o presente (2002) não se conhece nenhuma via de escalada com essa graduação.

 

  1. Graduação pela Duração (D)

Expressa o tempo de duração da via quando repetida à vista por uma cordada “normal”. A escala utilizada é a internacional, tendo a notação sido modificada para maior clareza, já que aquela escala utiliza os mesmos algarismos romanos que aqui utilizamos para o lance mais difícil da via. Assim sendo, os graus I, II, III, etc utilizados no exterior equivalerão no sistema brasileiro aos graus D1, D2, D3, etc, sendo o D de “duração”. O grau de duração da via só considera a ascensão, não incluindo o tempo de retorno, seja ele feito por rapel ou caminhada.

Escala:

D1: Poucas horas de escalada

D2: Meio dia de escalada.

D3: Um dia quase inteiro de escalada.

D4: Um longo dia de escalada.

D5: Requer uma noite na parede. Cordadas muito velozes podem repeti-la emum dia.

D6: Dois dias inteiros ou mais de escalada. Normalmente inclui longos ecomplicados trechos de escalada artificial.

D7: Expedições a locais de acesso remoto com longa aproximação e muitosdias de escalada.

 

  1. Graduação pela Exposição (E)

O grau de exposição de uma via procura expressar seu o grau de comprometimento psicológico. Como visto anteriormente, a exposição está incluída, junto com outros fatores, no grau geral da escalada. No entanto, a sua menção específica em separado é uma informação muitas vezes importante, principalmente em se tratando de escaladas em ambiente de montanha, e muitos escaladores optam por utilizá-lo na graduação das vias. A primeira vez que um termo que expressasse exclusivamente o grau de exposição foi utilizado ocorreu com o lançamento do Guia de Escaladas dos Três Picos (1998), por Alexandre Portela, Sérgio Tartari e Isabela de Paoli. Os autores criaram um sistema fechado com 5 subdivisões, e que teve repercussão bastante positiva por parte da grande maioria dos escaladores que utilizaram aquela publicação como fonte de informações sobre as escaladas de Salinas (Friburgo), região incluída no guia. Como resultado, decidiu-se nos seminários incluir este grau no sistema. Os fatores considerados aqui são principalmente a distância e a qualidade das proteções e o risco de vida em caso de queda, mas também a dificuldade técnica dos lances (embora este fator tenha menor peso). Este grau diz respeito apenas à parte de escalada livre da via.

Escala:

E1: Vias bem protegidas (ex: a maior parte das vias do Anhangava/PR, Cuscuzeiro/SP, Lapinha/MG e Coloridos, Urca/RJ)

E2: Vias com proteção regular (ex: vias do Morro da Babilônia, na Urca/RJ e Serra do Lenheiro/MG);

E3: Proteção regular com trechos perigosos (ex: vias na Serra dos Órgãos/RJ e Pedra do Baú/SP);

E4: Vias perigosas (em caso de queda) (ex: algumas vias de Salinas/RJ e Marumbi/PR);

E5: Vias muito perigosas (em caso de queda) (ex: algumas vias de Salinas/RJ e Cinco Pontões/ES).

 

  1. Metodologia de Aplicação do Sistema de Graduação de Vias de Escalada
  • No caso de uma via curta (uma enfiada ou mesmo um boulder), e a sequência mais difícil seja VIIb. O grau da via é então VIIb.
  • Caso a da via anterior tenha duas ou mais enfiadas, o grau médio dos lances da via deve ser aferido, e ajustado um pouco para cima (ou não) conforme a exposição, exigência física e outros fatores subjetivos. Suponhamos que esse grau seja 5°. A graduação seria 5° VIIb.
  • Caso a via anterior tenha ao menos um trecho de artificial com cliffs, graduado em A2. A graduação seria 5° VIIb A2. Se esse artificial constituir de apenas três pontos de apoio, você pode querer explicitar isso. A graduação seria 5° VIIb A2 (3).
  • Agora, supondo que essa mesma via não possua lance nenhum em artificial, pois é feita em livre. Como vimos acima, seu grau é então 5° VIIb. Mas o crux (VIIb) tem a possibilidade de ser feito em artificial segurando em um ou dois dos grampos de proteção (um A0, portanto), e aí o lance mais difícil passa a ser um Vsup. A graduação seria 5° Vsup (A0/VIIb).
  • Caso a essa via seja particularmente exposta (um E4), e, embora isto já tenha influenciado o grau geral, você pode querer dar a informação em separado. A graduação seria 5° VIIb E4.
  • Caso exista a exposição e o artificial, as duas coisas podem ser informadas. A graduação seria 5° VIIb A2 E4.
  • Caso desejar acrescentar a duração da via nas informações anteriores, supondo, por exemplo, um big wall. A graduação seria D5 5° VIIb A2 E4.

Em resumo, o grau pode ser expresso de maneira tão simples como VIIb ou tão extensa como D5 5° VIIb A2 E4, conforme as características da via e os objetivos de quem a gradua, mas na prática, a maioria das vias só requer mesmo o uso de dois termos: o grau geral e o crux. Seguem abaixo outros exemplos:

  • VIsup: Via de uma enfiada, boulder ou falésia cujo crux é VIsup. D2 4° VIsup A2 E2: Via de grau médio (geral) 4°, crux VIsup e artificial A2 cujo grau de exposição é E2 (grampeação regular) e a duração é D2 (meio dia de escalada).
  • IV E3: Via curta de crux IV grau e exposição regular com trechos perigosos (E3).
  • 3° IVsup (A0/VI): Via de 3° grau com crux de VI, mas cujo crux obrigatório é IVsup.
  • D6 7° VIIb A3+ E4: Via de 7° grau com crux de VIIb e artificial A3+ que tem grau de exposição E4 (via perigosa) e duração de alguns dias.
  • 5° IV: Via de 5° grau cujo crux é de IV grau.
  • 5° IV E4: Pode ser a mesma via anterior, mas decidiu-se tornar explícito o grau de exposição. Notar que o alto grau de exposição desta via faz com que o grau geral seja maior do que o do crux.