Toda trip inicia muito antes de montar a barraca

grupopatagonia

25/01/09– Como tem acontecido todos os últimos anos, passei o mês de janeiro separando e organizando os equipamentos e materiais para a viagem.Estava tudo separado no dia 27/01 e deixei para arrumar nas mochilas e fechá-las no domingo, véspera da viagem.

27/01/09– Hoje foi o dia de fazer contas e separar o dinheiro da trip.O ultimo ano não foi muito bom de trabalho e as economias ficaram reduzidas, terei de fazer uma viagem mais econômica este ano.A previsão que fizemos era algo em torno de $1.200 cada.O Tiago de Candelária se pronunciou e confirmou que vai conosco.O Fabiano de Santa Cruz havia dito que iria mas não confirmou ainda.De qualquer forma, quanto mais gente ir melhor para dividir os gastos.Estamos indo este ano pela primeira vez em dois veículos, irei com minha L200 e o Ricardo com a Pajero Sport.Sairemos na madrugada de segunda,navegantes,as 04h30 da manhã.Nosso ponto de encontro será na garagem do Duca(Eduardo Tondo).Iremos Eu, Duca,Dudu(Eduardo Isaia),Ricardo Bruce e Tiago Candelária, mais o Fabiano se confirmar.Esperamos retornar para Poa lá pelo dia 19-quinta. Conseguimos os botes que queriamos para cruzar o Rio Llimay no Valle Encantado;ainda falta verificar o cambão, xerox das necessidades para embaixada argentina e compraar uns pesos.

01/02/09(Domingo)– Hoje é o dia de fechar as mochilas.O Dudu saiu hoje de Poa, as 15h00 para buscar o Tiago de Candelária, junto com o Ricardo.De lá seguirão para Santa Maria onde dormem.Sairão cedo tambem para nos encontrar em Rivera.Nós sairemos as 05h00.Combinei de buscar o Bruce as 04h20 e dali passar para pegar o Duca, onde arrumaremos as cargueiras na caçamba da caminhonete.

02/02/09(segunda)– Saí as 04h10 de casa e com o Bruce fomos ao Duca.Arrumamos a carga e as 05h00 partimos de Poa.A ponte do Guaíba do lado da igreja Navegantes estava com vários acessos fechados em função da festa, tivemos de voltar até o centro e de lá entrar pela freeway até a ponte.Abastecemos e iniciamos finalmente nossa viagem. Paramos no Muller para lanchar e chegamos as 11h30 em Rivera,onde encontramos os outros.Comemos no Uruguay uma parrilla. Seguindo, após os tramites da aduana, cruzamos o país chegando em Paisandú as 17h00. Entramos na Argentina onde tocamos direto até Lujan, nosso destino hoje.Pegamos uma tormenta fortíssima ao se aproximar de Buenos Aires e Rosário(soubemos mais tarde que foi um ciclone que inclusive danificou varias construções,etc); resolvemos parar num posto para comer(Mac)e deixar amenizar a tempestade. Chegamos lá as 00h30; nos hospedamos no Hotel Biarritz, próximo a Basílica Nacional e rodoviária.Nos custou P$220 os 6 com café e garagem.

03/02/09(terça)– do hotel fomos a um super comprar algo para comer e beber na viagem. O Dudu queria passar no zoo de Lujan, fomos em busca, mas desistimos no caminho.Na verdade só ele estava empolgado com a visita, disse haver animais selvagens soltos e que era possível uma aproximação nas jaulas,etc; coisas de Bode!Saímos de Lujan as 09h00 e dirigimos o dia todo, parando em Santa Rosa, 9 de Julyo, Trenque Lauquen,Cruce del Desierto e Neuquen, onde chegamos as 23h30.Após encontrar um hotel fomos comer pizza e tomar umas Quilmes, onde havia um cordobés, o qual nos rendeu uma história interessante(para ser contada em outro momento);o Tiago e o Bruce foram os protagonistas.Deitamos as 02h00.

04/02/09(quarta)– acordamos cedo e tomamos café ainda no hotel, que nos custou P$310 os 6 com estacionamento.Saímos as 09h00 e fomos novamente ao super, trocar pesos e telefonar.Partimos tarde,12h00,perdemos muito tempo em compras e voltas.Decidimos comprar toda a comida aqui nesta cidade que seria a maior antes do Valle, nosso primeirop destino.Fizemos um rancho de 2 carrinhos.O Bruce aguardava no estacionamento cuidando dos carros.Macarrão, molhos, frutas, temperos, comida pronta, agua, sucos, muito vinho bom, queijos, chocolate em barra, pães e biscoitos, entre outros; estávamos bem preparados para alguns dias.Ao passar no caixa, foi nitido que eramos estrangeiros e logo percebeu-se murmúrios e risos dos caixas e empacotadoras.Nos divertimos tambem e contamos que estávamos indo escalar ao sul; uma delas perguntou se tomaríamos todo aquele vinho?? Tínhamos umas 15 garrafas, dissemos que sim, fácil, pois no frio,em 6 pessoas, após um dia de cansaço, nada melhor do que um bom vinho argentino e uma barra de chocolate para dormir bem. Os risos persistiram.Seguindo viagem, paramos em Piedra de Águila para o almoço.No Valle, chegamos com tempo ruim, chuva e frio e muitos escaladores abandonando o local, afirmando que estava fechado.Decidimos então ir mais ao sul, além de Bariloche, que foi o máximo que tinhamos ido ano passado. A temperatura baixava a medida que descíamos,dos 35C no deserto chegamos no Valle com 20C e 11C em Bariloche.Paramos na cidade novamente para algumas compras mais e abastecer.Decidimos então que nossa meta era encontrar a Buitrera.Tínhamos de chegar em Esquel e as 02h30 lá estávamos;Nosso jantar foi no meio do caminho num lugar chamado El Bolsón, com 9o.C e mais umas pizzas com uma cerveja artesanal feito ali mesmo.

05/02/09(quinta)– Acordamos um pouco mais tarde hoje e tivemos um café da manhã excepcional, em forma de buffet.Amanheceu muito frio; hora de mudar a vestimenta e encontrar o Clube de Escalada e Montanha de Esquel para pegar informações sobre como chegar na Buitrera.O hotel nos custou um pouco mais aqui, P$200 cada apto,ficamos em 2, com café. Ainda temos um bom pedaço para percorrer.Na noite anterior, na estrada, o que chamou atenção foi a força do vento e a quantidade de lebres que cruzamos na estrada, vivas e mortas.Estamos próximos da fronteira com o Chile daqui e por essa razão, ao abstecer, descobrimos que aqui tem a “TT”como apelidamos a taxa trouxa, cobrada para os carros que tem placa estrangeira, onde o combustivel sai quase o dobro(pagamos P$3,35/l e o normal é P$2,09/l). Daqui de Esquel até a Buitrera são mais 130km, passando por um lugarejo chamado Gualjaina.O Clube que procuramos na cidade estava fechado.Em Gualjaina, a 85km, se encontra combustível, um pequeno mercado, padaria,hosteria,açougue,etc.A estrada até lá é toda de rípio(chão batido com pedras, muitas) e faz muita poeira.Quando chegamos no local chamado Piedra Parada, procuramos o camping que é de um fazendeiro local e ficamos impressionados com o lugar: muita pedra ao redor, um rio de corredeira perfeito(Rio Chubut- que dá nome a Província e com muita truta), gramado para montar as barracas com salseiros para prover de sombra, fantástico.Montamos acampamento e fomos logo escalar, a fome era grande…o lugar de escalada consiste em um canyon de rocha com 6km de extensão e 100 a 150m de paredes verticais, com buracos, torres, fendas, negativos, cavernas;os setores de escalada estão em ambos os lados.Não tínhamos o guia do local e fomos procurar um setor cheio de buracos negativos, chamado El Alero.Entrei numa via fácil de uns 25 m(6b ), logo a segunda com 25m(6c) tambem e outra de 20m,(6b) na sequencia. A vontade era tao grande que descia de uma via e ja queria equipar outra, busquei fazer tudo a vista, encadenando todas on sight.A quarta via foi a Planeta Agujero-7a, rolou cadena e logo na do lado direito uma outra 7a*;nesta tive uma queda pois uma agarra de pé quebrou e voei uns 6 m numa passagem em dropknee, costurando, cheguei junto ao segurador, uns 2 m do chão!Foi uma boa queda para quebrar o gelo, voltei e repeti o lance indo até a parada.Como não encadenei, deixei equipada para o dia seguinte.De noite já fazia muito frio e ventava demais.Resolvemos ir para o acampamento, isto era umas 21h30. No acamapamento nos limpamos e começavamos os preparativos para o jantar e, aí, veio uma surpresa e tanto, nada agradável: a principal refeição das compras não estava conosco! Como assim?? Perguntavam. Pois é, tudo foi esquecido e ficou a km em Neuquen.Neuquén se importa, Neuquen quer saber!!! Queríamos comer pois estávamos famintos.Não tinhamos nenhuma janta, os paes, biscoitos, macarrao, atuns, chocolates, molhos, tudo ficou provavelmente no super.A pergunta que não quer calar é: como seis marmanjos, todos experientes, calejados deste tipo de viagem, conseguiram esta façanha?Excesso de confiança, falta de liderança, indefinição de tarefas(planejamento), estas foram algumas respostas que encontramos para nosso infortúnio.E agora? Como manter 6 adultos com fome durante toda noite pelo menos e depois ainda rodar alguns quilometros em busca de algo para comer?Bem, restava algumas sacolas pelo menos do super que vieram: bananas, maçãs, açúcar e vinho!Sim, os vinhos vieram.Pra que mais do que vinhos argentinos…tinhamos uma fogueira também, então a idéia era beber e esquecer a fome. Resolvi fazer um preparado de banana amassada com açúcar, quente.Os unicos que gostaram foi Eu e o Bruce.Tomamos vinho até tarde, acho que ficamos até as 02h00 conversando e tomando 3 das garrafas que compramos. A noite foi muito fria, algo em torno de 1oC.

06/02/09(sexta) – No dia seguinte acordei as 08 com um magnífico dia ensolarado, NO CLOUDS!Após um rápido café da manhã com um pequeno paozinho que havia sobrado da viagem, arrumamos os equipos e fomos para o canyon. Hoje escalei uma fenda maravilhosa em oposiçao, fiz um pequeno teto em outra via, mais dura, custei a passar o crux, com pequenos abaloados, não gostei muito.Depois voltei no El Alero na via que deixei equipada e ai então encadenei, com mais facilidade(7 a).Ao lado fiz outra muito boa tambem a flash, um 6c francêsmais longo-“Propulsión a Chorro”.Decidi descer ao acampamento em torno das 15hs para ir a cidade mais proxima buscar comida, a segunda noite seria impossível sem um jantar digno. Fomos no meu carro até Gualjaina, a 45 km.Fizemos compras num mercado pequeno mas bem completo, aproveitei para ligar pra casa,matar a saudade, mas não consegui. Voltamos os 45km e agora sim, felizes por ter comida para os próximos dias.Ao chegar fui logo tomar banho no Rio Chubut.São 20hs e começamosos preparativos da janta e mais uma rodada de bobagens e vinhos por algumas horas.Fui dormir mais cedo e ouvir um pouco de música.

07/02/09(sábado) – Como ontem, acordei com o barulho das ovelhas cruzando perto das barracas berrando umas com as outras e com o Ricardo com sua ansiedade, abrindo e fechando o carro, caminhando de lá pra cá em busca de algo que perdeu e xingando tudo!Virou praxe este comportamento.Fomos escalar num novo setor chamado EL CIRCO. Escalei 3 vias longas de 35 m cada de 6 a – 6 b.O sol bate nesta face e já estava nas vias quando chegamos, o calor é extremamente forte, desgasta muito e foi bem dificil fica neste local, creio que fomos num horario inadequado. No retorno para o acampamento passamos em outros setores no caminho para conhecer, vimos outros escaladores por lá tambem.No acampamento o que mais queria era tomar banho no rio, pois o sol hoje nos castigou e fomos direto pra lá. Lanchamos, fizemos um pouco de artesanato com pequenos galhos de uma madeira macia que tem por lá e preparamos uma fogueira novamente.Arranjamos uma mesa com cadeiras, enquanto o Duca,Dudu e Ricardo foram pescar trutas outra vez e novamente voltaram sem nada.Hoje o ricardo cozinhou e o Tiago mostrou seus dotes de escotismo fazendo o fogo com apenas um palito de fósforo. Ficamos bebendo e rindo até as 03h00, claro que acordamos mais tarde no outro dia.

conyescalando

08/02/09(domingo) – Acordei com calor e um pouco de preguiça hoje, não é pra mesno, com a noitada de ontem!!Mas a motivação para escalar não falta, estou com desejo de escalar mais vias por dia, creio que tenho feito pouco.O dia foi para irmos ao setor denominado LE GRUYERE, homenagem ao queijo suiço, pois tem buracos de sobra… encadenei 3 vias on sight ai: de 5c a 6b cada, muito bonitas.Deste lugar fomos para outro setor ao lado chamado EL OJO DE BUDA, onde estão as vias mais difíceis da Buitrera. Entrei num 7 a para aquecer e fiz a via com uma queda no final, o crux está exatamente na última agarra e se chega meio bombado aí. Na terceira tentativa encadenei a via.Tive gás ainda para fazer outra via longa em outro setor, 6c bastante técnico e exposto, de uns 32 m, com uma passagem crux novamente no ultimo lance, muito adrenante.Não era uma queda muito saudável e tinha uns esticões… Na sétima proteção havia uma costura posta, a via tinha ao todo 16 proteções mais a parada. Descobrimos que era de umas escaladoras de Buenos Aires, recuperei a mesma da via, pois ela deixaram por não conseguir passar o lance. Hoje o dia rendeu pra mim, estou cansado mas feliz.

09/02/09(segunda) – 8o. Dia – Voltei ao Ojo de Buda, onde subi um outro 7 a e mais um 6c+, ambos on sight.Dali fui ao El Alero fazer outras duas vias de 6b e 6c+, novas cadenas!Fomos parao camping e decidimos desmontar acampamento e seguir para El Bolsón ou Bariloche.Queríamos ir ao Frey ainda.Após muitos quilômetros de chão batido, noite de lua cheia e poeira, nos encontramos no meio do deserto, perdidos, rodamos 80 km em vão por uma estrada de atalho que tomamos e não nos levou a lugar algum, voltamos para Gualjaina e jantamos por lá.Seguimos o roteiro inverso até Esquel onde dormimos numa hosteira.

10/02/09(terça) – Ida para Bariloche. Fomos direto ao Camping Petúnia, já conhecido de outros anos.Passeios e compras na cidade, dia de descanso, ligar pra casa,etc.

11/02/09(quarta) – Plano: subir o Cerro catedral e escalar no Frey.Subimos de teleférico, caminhamos pela crista do catedral até a Laguna Toncek e Refúgio Frey com as cargueiras, um trekking pesado de subida, que fizemos em 3 horas.Chegamos com muito vento, frio e poeira, más condições.Isto me desanimou um pouco e muito ao Dudu.

12/02/09(quinta) – Acordei ainda meio desanimado pois a noite não foi muito agradável, ventou muito e fez bastante frio, descobri também, que a barraca que estou não é muito adequado para este tipo de acampamento, tem muita ventilação, entrou muito pó e terra.Assim mesmo, o Duca insistiu que fossemos até a base da Agulha Frey com os equipamentos.Então, mudei de clima assim que cheguei perto das vias, são impressionantes e o lugar é muito bonito, repleto de agulhas de rocha, um lagoe muitos escaladores acampados.Fizemos a rota chamada “Si Fuentes Weber”e “El Diedro Jim”, tradicionais no local, ambas em móvel.Como o clima não estava agradável, o vento insistiu em ficar, os escaladores que estavam a mais tempo comentaram que havia uma semana assim, resolvemos descer naquele dia mesmo a Bariloche outra vez por outra trilha.Levei 2,5 horas caminhando com o Dudu, os demais fizeram em 3 hs.Chegamos com chuva no camping e jantamos por lá mesmo. Seguimos ainda por Bariloche por mais 3 dias, escalando no Cerro La Ventana.Decidimos antecipar nosso retorno pois alguns dos colegas estavam sem dinheiro já e aí as coisas começam a complicar.No domingo do dia 15/2 iniciamos a volta. Chegamos as 20hs de terça feira, dia 17/2 em Poa.Fui recebido com um excelente jantar e é claro, um vinho argentino que comprei na viagem.2010 logo vai chegar e, novamente colocaremos o pé na estrada outra vez e as mãos na rocha, que tanto nos passa energia positiva e motivação; nosso plano:Mar del Plata. Até breve.

Luis Henrique Cony